“Se queres conhecer o passado, examina o presente que é o resultado; se queres conhecer o futuro, examina o presente que é a causa”. (Confúcio, filósofo chinês – 500 A.C.)

Você está se preparando para envelhecer? As pessoas passam a vida toda achando que são imortais, mas se há uma certeza no mundo, é que todos nós também vamos envelhecer. O cineasta americano Woody Allen costumava afirmar que não tinha nada contra o envelhecimento “já que ninguém tinha descoberto uma forma melhor de não morrer jovem”.

Mas, o que é a vida afinal? De acordo com a doutora Ana Claudia Quintana Arantes, Geriatra, Gerontológica, especialista em Psicologia e em Cuidados Paliativos e autora do livro PRA VIDA TODA VALER A PENA VIVER,  a “vida é uma condição sexualmente transmissível, incurável, progressiva, podendo levar a diversas incapacidades e, em 100% dos casos, termina em morte. Absolutamente todos nós morreremos”.

No meu trabalho de consultoria sobre projetos de vida, sempre oriento e recomendo às pessoas para que busquem um equilíbrio dinâmico entre trabalho, família, tempo e dinheiro. Uma das perguntas que aparece frequentemente é sobre o futuro.  E para saber como será o futuro eu lembro da frase de Confúcio “se queres conhecer o futuro, examina o presente que é a causa”. Aquilo que estamos fazendo hoje terá seu reflexo no futuro. A palavra EQUILIBRIO é a chave para envelhecer com qualidade de vida. Precisamos investir em cinco dimensões da vida de uma forma equilibrada para alcançar este objetivo com sucesso: cuidar das finanças (dinheiro); cuidar do emocional; cuidar do intelectual; cuidar do físico (saúde); e, por último, cuidar (investir) do espiritual que deverá trazer o significado da vida.

Dentre as cinco dimensões da vida, destaco as finanças (dinheiro), uma vez que este aspecto está presente em tudo que faremos em nossa existência. Podemos observar quanto tempo nós passamos tentando ganhar dinheiro, gastando dinheiro, monitorando o dinheiro, administrando o dinheiro, cuidando das coisas que compramos com ele e lidando com os problemas que ele gera nos relacionamentos. Até que ponto a dependência que temos do dinheiro que recebemos por nosso trabalho afeta a quantidade de tempo que podemos dedicar à família? Até que ponto pais e mães que trabalham fora de casa por uma questão de ordem  econômica, poderiam melhorar sua qualidade de vida com a família?  Na verdade, o dinheiro se inter-relaciona com todos os outros elementos constitutivos da vida. Uma melhoria na habilidade em administrar o dinheiro irá trazer reflexos de maneira significativa, em todos os outros aspectos da nossa vida, como:

  • gastar menos do que ganhamos;
  • economizar para um momento de necessidade;
  • investir em vez de consumir.

Esse novo comportamento é um fantástico maximizador de todas as áreas do equilíbrio da vida. Principalmente, porque irá sobrar mais dinheiro com menos tempo dedicado ao trabalho e consequentemente,   melhorar a vida pessoal e familiar.

Nosso grande objetivo e desejo é viver em plenitude. Os avanços da ciência e da medicina têm um papel indiscutível no aumento da nossa expectativa de vida. Mas existe outro lado de tudo isso: pessoas menos comprometidas com a saúde passaram a acreditar que existirão fórmulas mágicas para apagar décadas de escolhas erradas que fizeram em relação ao corpo e aos cuidados com sua saúde. Elas acreditam que tudo pode ser resolvido com o dinheiro, comprando remédios de última geração, vitaminas e soros milagrosos, fazendo plásticas e tratamentos estéticos caros. Segundo Arantes “só envelhece bem quem viveu em plenitude cada dia da sua vida”. A doutora e autora complementa ainda que “plenitude não significa viver apenas momentos felizes, o que de fato nem é possível. Significa viver intensamente todo o nosso tempo de vida, com seus altos e baixos.”

A qualidade das emoções vivenciadas, os sentimentos que cultivamos sobre nós e a autoavaliação que fazemos em relação as nossas habilidades, capacidades e competências irão influenciar nossa qualidade de vida. E o grande aprendizado que fica é que somente com EQUILIBRIO entre as cinco dimensões da vida nós poderemos obter o sucesso e uma velhice mais FELIZ, com autonomia e independência. Porém, segundo as estatísticas brasileiras, de cada 10 pessoas na velhice, nove vão dar muito trabalho e uma terá uma morte inesperada. Mas isso não se escolhe. Inevitavelmente, daremos trabalho em algum momento da nossa vida. Trabalho aos nossos filhos, cuidadores, médicos e enfermeiras. Entretanto, nossa meta deveria ser tornar o trabalho de quem nos cuida algo muito agradável.

A expectativa de vida no mundo vem crescendo. Diferente do que vem ocorrendo em nosso país. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2019 chegamos a 76 anos na média de vida no Brasil. Em 2021, um estudo elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) afirmou que a expectativa de vida de nosso país caiu para 72 anos, em função, principalmente, da Pandemia, mas também por outros fatores.

O Canadá está entre os 10 países do mundo com maior expectativa de vida, onde a idade média chega a 82 anos de vida. A maior expectativa de vida no mundo é no Japão com 88 anos. Eu estive no Canadá em duas oportunidades: em 2016 e em 2018. Visitei várias cidades, entre elas, Winnipeg, Montreal, Ottawa e Quebec. Em todas as cidades, caminhando pelas ruas, pude observar a existência de muitos condomínios com somente moradores idosos. Num deles, chamou-me a atenção que havia muitos idosos cuidando do jardim. Foi quando resolvi pesquisar sobre esse assunto. Descobri que é muito comum a existência de condomínios com infraestrutura especial para sêniores naquele país. Já faz parte da cultura dos canadenses planejar viver sua velhice juntamente com seus amigos. Locais onde moram pessoas com total autonomia e outras com autonomia relativa. O condomínio oferece profissionais importantes para todos os moradores, como médico, enfermeira, fisioterapeuta e toda uma infraestrutura com espaços para cultura, exercícios físicos, refeitório, etc. Além disso, os apartamentos também possuem cozinha própria para que o morador, quando quiser e puder, prepare suas refeições. Esse tipo de condomínio e moradia traz tranquilidade para os filhos, já que o espaço oferece cuidados necessários para seus pais. Eu até poderia chamar de uma “creche de idosos”. Porém, diferente das crianças que voltam para suas casas no final do dia, os idosos moram lá.

O Canadá é um exemplo mundial em qualidade do sistema de saúde pública e consequentemente em qualidade de vida. Os canadenses tem um sistema bom de saúde, especialmente em termos de serviços médicos e de cuidados nos hospitais. Existem, também no Canadá, mais de 1.000 cidades em todas as 10 províncias, comunidades chamadas “cidade amiga do idoso”. Todas estas políticas contribuem para o aumento da qualidade e da expectativa de vida.

Esse modelo de condomínios para idosos também já existe no Brasil, porém em número ainda muito pequeno e por um custo muito elevado para os padrões da renda dos brasileiros. Entretanto, é uma ideia que deveria ser estudada pelo Poder Público e incluída em seus projetos da política do cuidado com o idoso.

Os canadenses dizem que preparar-se para envelhecer não é fazer lifting no rosto ou praticar mais ginástica na academia. Pode ser isso também, mas antes é preciso vigiar o que vai no prato, fortalecer o cérebro e cuidar das relações humanas.

Pensando nisso, e baseado no fato de que os Canadenses vivem bastante, mas que, ainda assim, existem muitas pessoas que passam os últimos 10 anos da vida doentes, a fundação filantrópica Heart & Stoke Foundation, que financia projetos de saúde criou uma campanha que nos faz refletir sobre como as escolhas que são feitas hoje podem definir se teremos uma velhice saudável ou não. Convido a assistir o vídeo  abaixo.

Zenar Eckert é Consultor Financeiro e Executivo da Plena Projetos de Vida